Tudo começou nos anos 80.
Antes do advento dos “Cobrinhas”, as bases enviavam formulários com os dados das movimentações necessárias ao processamento contábil e fiscal, através de malote dos Correios, o que, dependendo da localidade, causava atrasos neste tipo de processamento, chegando até 2 dias após sua postagem, como era o caso da base de Manaus.
Além disso, uma vez recebidos, iniciava-se a entrada de dados, através do processo de digitação e validação das informações recebidas, as quais alimentariam os sistemas BRD (Boletim de Remessa de Documentos) e BCG (Boletim de Caixa Geral), necessários à geração do movimento mensal.
Com o apoio da Diretoria, a área de Informática iniciou a descentralização dos sistemas, levando às bases o primeiro sistema de faturamento desenvolvido para os Cobra 305 (os famosos Cobrinhas), que possibilitava a chegada das informações já em formato digital, armazenados em disquetes de oito polegadas, os quais também eram enviados pelos Correios.
Os dados destes disquetes tinham que ser convertidos para fitas magnéticas e submetidos aos sistemas diretamente no computador IBM 4341.
Precisava-se agora, minimizar o tempo de chegada destes dados à matriz, e o passo seguinte focou na implantação do processo de transmissão, logo após sua geração, utilizando-se os meios de comunicação disponíveis no momento, ou seja, as linhas telefônicas (linha discada).
Conseguiu-se com isso a eliminação do processo de digitação, muitas vezes mais lento do que a conversão do formato gerado pelos cobrinhas para o formato utilizado pelo computador central.
Inicialmente para o Cobra 305 localizado no prédio Matriz e posteriormente de forma direta para o IBM 4341, pela rede de comunicação que veio a ser implantada.
Falávamos, então, do amadurecimento da rede de transmissões digitais de dados, base para tudo que viria a seguir, em termos de Telemática e até mesmo de Informática.
Naquela época, a empresa não dispunha de uma área responsável pelos serviços de telecomunicações, necessários à criação da rede de dados.
O estado das instalações telefônicas era precário e ineficiente, em todas as dependências da empresa, inclusive no prédio matriz. Foi então solicitado pela diretoria, que a área de informática desenvolvesse um projeto de amplo espectro, englobando todas as necessidades de telecomunicações da empresa, tanto em termos de voz quanto de dados.
Como resultado deste projeto, foi criado o departamento de Telemática, que passou a ser o responsável por todos os sistemas de comunicação da empresa, através da implementação de modernas centrais telefônicas em todas as suas dependências, incluindo as bases de distribuição e o prédio da matriz, o qual recebeu uma central telefônica computadorizada, além da instalação do número de troncos adequados à sua necessidade, que posteriormente foram substituídos por fibra óticas.
Além das novas centrais telefônicas, foram também implantadas a rede de comunicação de dados e a rede de fonia, que mantinham comunicação direta entre todas as dependências da empresa, gerenciadas pela Central de Controle de Redes, criada especificamente para esta finalidade, além da implementação de três salas de vídeo conferência, localizadas no Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
Estas salas trouxeram agilização nas tomadas de decisão, evitando perda de tempo com deslocamentos, o que acarretou também em significativa redução de custos com viagens e estadias.
Posteriormente, com o desenvolvimento do sistema Abadi, os Cobras 305 foram substituídos por computadores Medidata, instalados nas diversas regiões da empresa e interligados ao computador central na Matriz, dando continuidade ao processo de descentralização dos sistemas.
Agora, com a rede de dados consolidada e com a rede de voz implantada, os sistemas e processos tiveram um grande salto de qualidade, com tempos de resposta muito menores, alta disponibilidade e abrangência nacional.
Mais adiante, novas necessidades de interligação vieram a surgir, principalmente com o advento dos microcomputadores Windows e com a chegada da Internet, quando foram desenvolvidos os projetos da infraestrutura necessária à instalação dos microcomputadores em redes locais, através de cabeamento estruturado, racks e hubs padronizados, nos andares do prédio Matriz no Rio de Janeiro e, a seguir, nas demais dependências da empresa, e também nas outras empresas do grupo.
Daí prá frente, são outras lembranças e também outras memórias.
Fatos Curiosos ocorridos durante este período:
A diretoria e a 3705
Para que fosse possível fazer a comunicação dos dados enviados pelas bases diretamente com o computador central IBM, a diretoria autorizou a aquisição de uma controladora de comunicações IBM 3705, a qual foi esperada com grande ansiedade, uma vez que este equipamento permitiria um enorme ganho de tempo com o processamento. Uma vez informados de sua chegada, eis que um dia descem ao segundo andar todos os diretores da empresa, para conhecer a famosa 3705. Ao penetrarmos na área do CPD, onde a mesma estava instalada, fomos surpreendidos com os mesmos parados, repentinamente, em frente à mesa de controle de transmissão, com seus equipamentos de monitoração e comutação, além de todos aqueles LEDs dos modens, brilhando e piscando, cuja visão os deixou maravilhados achando que era a famosa 3705. Não é preciso dizer a tamanha decepção quando viram a verdadeira 3705, com seus poucos, ou nenhum atrativos de beleza.
O riff das comunicações de dados
O termo riff é utilizado pelos músicos quando querem se referir a um trecho marcante da música, como por exemplo um refrão. Segue agora o motivo da explicação. Naquela época, uma das formas de monitoração utilizadas nas linhas telefônicas era o uso de amplificadores, com alto-falantes, que permitiam que fosse ouvido o som gerado pelos dados que estavam sendo transmitidos. Com o tempo, os operadores se habituavam a reconhecer, através destes sons, quando uma tentativa de conexão era realizada ou não com sucesso. Isso causava admiração nas pessoas que testemunhavam esta capacidade dos operadores, a tal ponto que, certa vez, uma dessas pessoas fez a seguinte pergunta ao operador: “O que é que eles estão falando?”
Reação à CPA (nova central telefônica do prédio matriz)
De uma forma geral, a implantação da nova central telefônica do prédio matriz foi um verdadeiro sucesso para todos que nele trabalhavam. Maior rapidez de obtenção de linha para ligação externa, telefones com teclas, e principalmente a eliminação dos famosos sistemas KS. Para quem não conhece, ou não lembra, eram aparelhos telefônicos, com teclas que permitiam que se utilizasse mais de uma linha telefônica, e que tinha como grande inconveniente, a necessidade de interligação através de grossos cabos telefônicos, que priorizavam o uso destas linhas de acordo com a sequência de interligação dos aparelhos. Além disto, a distribuição destes cabos gerava alto índice de trabalho quando da necessidade de remanejamento de layout das salas. A CPA, e a instalação do número de troncos de acordo com as reais necessidades, vieram acabar com o uso deste sistema, em todas as áreas do prédio, com exceção de uma, por rejeição de seu diretor. Certo dia, esta área solicitou uma modificação do layout, exigindo que fosse feita num determinado fim de semana. Ao sermos consultados pela administração do prédio, informamos que não seria possível atender a esse prazo em função dos sistemas KS ali instalados, e que necessitaríamos de no mínimo três dias inteiros para concluir o serviço, quando o uso dos mesmos estaria impossibilitado, por razões óbvias. Sugerimos que a mudança fosse realizada daí a duas semanas, quando haveria um feriado prolongado. Qual foi nossa surpresa quando nos foi informado que a sugestão não foi aceita e que teria que ser realizada da forma proposta. O que aconteceu? Na segunda-feira, a instalação do KS ainda se encontrava em andamento e a área não conseguia utilizar as linhas telefônicas privadas que possuíam. O diretor ficou extremamente nervoso e o gerente do departamento de Telemática foi solicitado a lhe explicar o que estava acontecendo. Assim o fez, e ao chegar explicou que as causas do problema, que até então eram desconhecidas pelo citado diretor e aproveitou para questionar o motivo da rejeição pelo uso da CPA. Foi-lhe então explicado que sua preocupação era com a segurança, pois tinha medo que, ao compartilhar um dos troncos (132 na época) fosse vítima de uma espionagem industrial, acreditando que com as seis linhas diretas que possuía isto não aconteceria. Neste momento, como que por uma providência divina, o gerente de Telemática visualizou um funcionário da concessionária telefônica (na época a TELERJ), em cima de uma escada, em um poste, fazendo manutenção em linhas telefônicas que por ali passavam (inclusive, talvez, as seis do KS da referida área). Apontando para ele disse ao diretor: está vendo aquela pessoa? Ela tem acesso às suas linhas telefônicas, muito mais fáceis de identificar, do que os 132 troncos que nossa central possui, e que, por serem compartilhados com todos os usuários do prédio, dificultam que alguém consiga monitorar uma determinada conversa. A reação do diretor veio através da seguinte frase: “Qual o menor prazo no qual você consegue nos transferir para a CPA?”
Não tem ninguém aqui com esse nome não!
Assim como nas outras dependências da empresa, a fábrica de São Cristóvão era interligada à matriz através de um equipamento denominado multiplexador, cujo modelo tinha o nome Micom (pronuncia-se Maicom). A pessoa responsável pelo equipamento, na fábrica, era quem interagia com o Centro de Controle de Redes (CCR) em caso de problema, ou coisas do tipo, e estava de férias. Houve então necessidade de uma intervenção neste equipamento e o operador do CCR entrou em contato com o substituto do responsável, perguntando como estava o Micom, recebendo a seguinte resposta: “Aqui não tem ninguém com esse nome não!”
Jaci Guilherme
23/12/2024
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