Era o início da década de 90. A Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga passava por uma espécie de revolução, onde a competitividade do nicho de mercado em que atuava requeria cada vez mais inovação e diferenciação, para que uma empresa distribuidora de petróleo como a nossa pudesse se sobressair e se expandir num mercado altamente competitivo e formado por verdadeiros pesos-pesados do segmento.
Eu já não era mais o Chefe do CPD. Havia sido convidado a atuar no recém-criado Departamento de Telemática, para chefiar uma de suas duas seções, a denominada Planejamento e Controle de Redes. Assim, seria de minha responsabilidade garantir o projeto lógico, a escolha da tecnologia e dos protocolos de comunicação, a aquisição e implantação dos equipamentos de redes (locais e remotas) e a sua permanente monitoração e controle.
Enquanto estive no CPD, uma das missões que recebi da minha gerência, foi a de produzir e encaminhar para a Secretaria Especial de Informática do Governo Federal, relatórios para o licenciamento de importação de equipamentos (hardware e software), que o Brasil não produzia naquela época. Eu já tinha certa experiência no assunto, porque essa era uma das minhas atividades nos tempos do DNER. E isso, além de me proporcionar alguma facilidade na busca pelos resultados, havia me permitido conhecer e acompanhar bem de perto o desenvolvimento e as tendências do mercado internacional para esse tipo de tecnologia.
Coincidentemente, outros colegas e ex-colegas com as mesmas origens técnicas que eu, haviam sido recentemente contratados pela Ipiranga. E, curiosamente dois deles eram o meu gerente direto, pelo Departamento de Telemática e o gerente da Divisão de Informática.
Isso gerou de forma quase que automática, a ideia de realizarmos uma espécie de seminário interno, logo batizado de Primeira (I) Semana da Informática, cuja concepção original nasceu de uma conversa do Ricardo, Gerente da Divisão, com o Jaci, Gerente do Departamento e meu chefe direto, que estabeleceram as bases do que deveria ser esse seminário.
Logo, outras pessoas de setores mais ligados às questões de infraestrutura, se juntaram ao grupo, caso do Paulo Cesar, o nosso querido PC, responsável pela área de microinformática e pelo Centro de Informações.
Traçadas as diretrizes, partimos para a execução. Foi-nos franqueado o uso de toda a Ala A do primeiro andar do Edifício Matriz, composta por duas salas de reunião, que podiam ser unidas, o auditório, e toda a área de circulação da Ala, além de lavatório próprio.
Esse espaço se comunicava diretamente com o hall dos elevadores e com a Ala B, onde se localizava o restaurante principal da Empresa, o famoso “Bandejão”. Havia ainda na Ala A um pequeno e diferenciado restaurante, reservado a diretores e gerentes, regularmente utilizado em almoços de negócios, preferencialmente com visitantes, fornecedores e empresários.
Definida a infraestrutura coube a mim, com o auxílio de outros colegas das áreas mais afins, criar uma agenda de expositores, tecnologias e palestras, o que foi feito com certa facilidade, pois consultados a respeito, praticamente todos os nossos fornecedores regulares manifestaram grande interesse e disponibilidade, inclusive quanto à cessão de equipamentos de hardware e software pelo tempo que durasse o seminário, e quanto à disponibilização de profissionais treinados para realizar demonstrações e esclarecer dúvidas do público participante.
A agenda foi aprovada sem restrições pela nossa gerência e os preparativos começaram. Chegaram os primeiros equipamentos, que foram dispostos numa espécie de “stands” espalhados pelas salas de reunião, pela área de circulação e até mesmo no auditório, por ocasião de demonstrações mais específicas.
Conseguimos de tudo, praticamente. Desde microcomputadores novinhos em folha, rodando o Windows 3.1 e 3.11, a monitores coloridos, mouses e impressoras portáteis, até placas de rede local, hubs e roteadores, servidores Unix e AIX, monitores de redes, multiplexadores, softwares gráficos, plotters e até mesmo vídeos sobre computação gráfica e equipamentos que possibilitavam a leitura e reprodução de CD’s com áudio e vídeo.
Além de toda essa parafernália, precisávamos dos palestrantes. Profissionais da IBM, da Medidata, da 3COM, da Cincom, da SAS, da Soft, da Textos & Imagem, da Itautec, da Redayber e de outros fornecedores se mobilizaram e permaneceram conosco durante toda a semana, realizando repetidas palestras e demonstrações, que literalmente enchiam o nosso auditório em sessões pela manhã e à tarde, tanto de funcionários de Informática como usuários e gerentes de todos os níveis da CBPI e de outras empresas do grupo Ipiranga.
Nos intervalos, exibíamos os vídeos de computação gráfica, que causaram enorme interesse por parte de todos os que frequentaram o nosso seminário.
E foram muitos!
Dentre todos os expositores, três deles merecem uma homenagem especial: o querido e saudoso amigo e colega Ernesto Marques Camelo, diretor e dono da Textos & Imagens, o também querido e saudoso Fernando Monteiro, da Redayber e o Francisco Petrucelli, da Soft Soluções.
Ernesto foi companheiro nosso de empresa de consultoria durante muitos anos, no DNER. Graças a ele, uma série de novidades computacionais gráficas pôde ser experimentada de forma inédita pela Ipiranga. Fernando Monteiro também nos acompanhava desde a nossa passagem pelo DNER sendo, além de fabricante uma espécie de laboratório de projetos para as ideias de alguns de nós, tão revolucionárias para aqueles tempos que se fossem enumeradas e descritas aqui transformariam essa crônica num verdadeiro manual de referência. Devemos ao Monteiro, como o chamávamos, muito do sucesso da nossa infraestrutura, tendo ele e sua empresa fornecido produtos e suporte para quase todas as áreas de FNI.
Já o Petrucelli, a quem chamávamos carinhosamente de Petru, nos deu uma aula sobre tecnologias emergentes na área de redes locais e remotas. Foi nosso colega e guru desde os primórdios, junto ao Serpro e à Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.
O resultado não poderia ter sido outro. Sucesso absoluto! Enorme frequência e interesse por parte de todos os setores e escalões da CBPI pois, pela primeira vez na história da Empresa, uma grande variedade de novidades sob a forma de tecnologias emergentes, estava ali disponível; sendo exposta e experimentada. Explicada e testada, descortinando todo o enorme caminho disponível a ser trilhado pela Informática na Ipiranga.
Não temos qualquer dúvida ao afirmar que aquela Primeira (I) Semana da Informática foi o ponto de partida para que FNI conseguisse sensibilizar as mais altas esferas decisórias da CBPI, da necessidade de investir pesadamente em tecnologia da informação e comunicação, o que se confirmou extremamente acertado e verdadeiro, haja vista o extraordinário avanço obtido pela Empresa nos anos que se seguiram, o que provocou a conquista da sua liderança tecnológica e da posição de destaque dentre todas as demais concorrentes.
Como curiosidade o fato de que, embora tenha se chamado Primeira (I) Semana da Informática, nenhuma outra aconteceu. Talvez, atrevo-me a dizer, a aceleração imposta por essa primeira (e única) que realizamos, tenha sido tão grande e intensa que não foi mais necessário convencer ninguém!
Inesquecível!
Philippe Gusmão
03/12/2023
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