Uma passagem que não sai da minha memória e não teria como sair devido à gravidade do momento, foi o incêndio que ocorreu no prédio onde a empresa tinha alguns de seus departamentos, na Av. Graça Aranha, no centro do Rio de Janeiro. Poucos participantes deste grupo whatsapp FNI estavam lá no início dos anos oitenta, mas os que estavam vão relembrar o ocorrido.
11 de dezembro de 1981, sexta-feira, por volta das 4h da manhã. Corta para sala do computador mainframe, o poderoso System /3 com sua leitora de cartões, seus discos de armazenamento que chamávamos de “pack” e sua impressora 1403 que cuspia papel a noite inteira.
O /3 estava processando o fechamento da rotina que era xodó do nosso chefe na época, chamada BRD (Boletim de Remessa de Documentos). Era meio custoso fechar o BRD e o nosso chefe se esmerava em fazê-lo no melhor tempo possível para não atrapalhar o fechamento geral do mês.
Estava fazendo uma meditação, acreditem por favor, e quando abri os olhos vi que a sala do CPD estava toda enfumaçada. Sai correndo e ao chegar no corredor do décimo-terceiro andar do prédio vi que o mesmo também estava todo cheio de fumaça. Fui abrindo as várias portas que existiam e não descobri nada. E a fumaça aumentando. Cheguei no Hall do andar e liguei para a portaria pra avisar sobre aquela fumaça.
Pensei em pegar o elevador pra sair logo dali, mas a plaquinha na parede me lembrou de que isso nunca deve ser feito. Intermináveis 5 minutos se passaram até o bombeiro do prédio aparecer e me tranquilizar dizendo que até aquele andar não tinha fogo, ou seja, o sinistro estava acima de nós. Quase pulei de alegria e o bombeiro falou que iria continuar subindo pra poder avisar algumas pessoas que dormiam no último andar e também ver de onde vinha o fogo.
Retornei à sala do CPD e comecei o processo de desligamento dos equipamentos, na certeza de que se o fogo estava acima, não iria descer, pois a tendência é arder pra cima. Ledo engano.
Após desligar tudo, fui ao meu armário e peguei minha pasta e alguns documentos e, em vez de descer, subi pra ver onde estava o bombeiro. Ao passar pelo décimo-quinto andar ouvi os sprinklers do hall jorrando água e o bombeiro apareceu nas escadarias com os olhos vermelhos e disse: "se manda que o negócio aqui tá feio".
Não sei como desci os 15 andares pelas escadarias do prédio, só sei que cheguei lá embaixo com os pulmões saindo pela boca e fui para o lado de fora.
Os bombeiros chegaram na maior calma e subiram até o décimo-quinto, pois lá tinha começado o fogo. De repente um barulho ensurdecedor fez com que olhássemos pra cima e víssemos as janelas de vidro no décimo-quinto arrebentarem e uma chama imensa de fogo sair. Daí em diante foi só tristeza. Tentaram controlar o fogo que subia, mas as escadas Magirus não alcançavam os últimos andares e eles não podiam fazer muita coisa. O prédio era todo de vidro e aço, mas a temperatura altíssima deformava o aço e os vidros se desprendiam e caiam, às vezes, inteiros. Como as escadas de um andar para outro não eram como as de hoje, com portas corta-fogo, o incêndio acabou se alastrando também para baixo e ardeu o prédio todo.
Diversos colegas, ao chegarem perto do prédio ainda em chamas, procuravam logo saber de mim pois eu trabalhava sozinho no décimo-terceiro andar e naquele tempo não havia celular nem nada pra gente se comunicar. Quando me viam falavam que estavam aliviados por não ter acontecido nada comigo.
Comentei acima que a rotina de BRD estava fechando naquele dia.
Meu chefe naquela época, ao chegar perto de mim foi logo dizendo: "Renato, você pegou o pack do BRD fechado?"
Não adiantou nada eu explicar que tive que sair escada abaixo, pulando de 3 em 3 degraus, e que o pack (o disco de armazenamento) era um panelão pesado pra caramba.
E eu não tinha pego o pack do BRD.
A partir daí, todos tiveram que se desdobrar pra fazer os sistemas voltarem a funcionar normalmente, o que foi muito difícil. Logo na segunda-feira seguinte já estávamos nos instalando no prédio de São Cristóvão, que estava quase pronto.
Com grande esforço, um CPD improvisado foi montado, com a ajuda da IBM que, em tempo recorde, disponibilizou os equipamentos necessários.
A restauração dos sistemas envolveu todos os funcionários da época, inclusive alguns que já tinham saído da empresa e que, voluntariamente, participaram da reconstrução, refazendo programas e recompondo os sistemas.
Hoje, me vem à mente a lenda da fenix que, quando morria, entrava em auto-combustão e, passado algum tempo, ressurgia das próprias cinzas.
Outra característica que o pássaro tinha era sua capacidade de carregar cargas muito pesadas enquanto voava, havendo lendas nas quais chegava a carregar elefantes.
Finalmente, podia-se transformar numa ave de fogo. Alguma semelhança?
Com o passar do tempo, ao constatarmos a modernização da tecnologia, os novos procedimentos e sistemas implantados, a chegada de profissionais com experiência diversificada e o crescimento que a área teve nos anos seguintes, podemos dizer que uma boa parte do que foi alcançado deveu-se àqueles que participaram da recuperação.
Acredito que lá foi o reinício de tudo!
Ou, como disse o Ivan, "começar de novo... vai valer a pena..."!
Valeu a pena!
Renato Rodrigues
25/06/2023
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