O ano, 1992. O país passava por uma enorme crise política, com profundas repercussões na economia e na vida de todos.
Já iam ficando para trás o término da reserva de mercado na informática (em 1990 - veja mais em Plano Collor), a implantação do primeiro sistema de telefonia celular, o lançamento do primeiro sistema operacional Linux e do Windows 3.0, a inauguração do primeiro posto Ipiranga de gás natural (1991), e outros marcos importantes naquele início de década.
As montadoras de automóveis eram acusadas pelo presidente da República de fabricarem veículos ultrapassados (o presidente Collor chamava tais veículos de “carroças”), acontecia a extinção de diversas empresas estatais, surgia o movimento dos “caras-pintadas” pedindo o impeachment de Collor depois de vários escândalos, era noticiada a morte de Ulisses Guimarães num estranho acidente de helicóptero, e, no finalzinho do ano, o presidente acabava por renunciar (sendo sucedido pelo vice, Itamar Franco), além de outras ocorrências graves (hiperinflação, confisco das contas bancárias e da poupança, etc.), o país enfrentava uma sucessão de incertezas e tensões.
Na tradicional festa comemorativa do aniversário de Ipiranga, que completava 55 anos em 7 de setembro daquele ano, no Clube Monte Líbano (se não me engano), o discurso do Dr. Gouvea pela primeira vez não trazia uma mensagem de esperança, ao contrário, deixava claro que o momento era muito incerto e com expectativas nada otimistas para a Ipiranga.
No último trimestre daquele ano percebia-se um clima tenso em toda a empresa. A ordem era reduzir custos, com o inevitável movimento de demissões.
FNI tinha seus investimentos restringidos e projetos para o próximo ano congelados até segunda ordem. Significativos cortes de custos e de pessoal também foram determinados pela Diretoria e tiveram que ser alcançados.
Naquele clima de tensão, ocorreram na Informática vários episódios tristes, um deles com uma pitada de humor negro.
Graça, funcionária de RH, era encarregada de levar a cada área os documentos de desligamento dos funcionários selecionados de acordo com critérios preestabelecidos.
Normalmente às sextas-feiras lá vinha ela percorrendo os andares. Na nossa área, entregava a lista e a documentação dos demitidos para a secretária, Isaura. Os respectivos gerentes eram convocados pelo gerente da Divisão para comunicar a decisão em conjunto a cada um dos que constavam da fatídica listagem.
Um funcionário da então Seção de O&M (Organização e Métodos) conhecido por seu agudo senso de humor, numa daquelas ocasiões, ao ver a Graça se dirigindo à secretária de FNI, disse em voz alta para muitos ouvirem:
“ Vade retro satanás !” fazendo os que estavam próximos dele rirem com um misto de preocupação e nervosismo.
Ele não foi demitido, mas foi um final de ano muito difícil para todos.
Felizmente, em apenas um ano tudo mudou para melhor e no segundo semestre de 1993 era anunciada a compra da Atlantic! Foi então que começaram enormes desafios para a área de Informática, como descrito em algumas de nossas crônicas, com nossas lembranças e memórias!
Alípio Rangel
18/10/2024
FNI.inf.br - este site NÃO utiliza cookies (exceto os do Google Sites) e NÃO armazena dados pessoais, estando em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados - Lei Federal 13.709/18.
A inclusão de conteúdo está sujeita à aprovação prévia dos editores.