Eu tinha pouco tempo de empresa e, por isso mesmo, ainda me movimentava de forma cerimoniosa, conhecendo aos poucos os novos colegas, outros setores da Companhia e tudo o mais.
A CBPI era um assombro para mim. Organizada, com instalações amplas e bonitas, ocupando um belo e moderno edifício, situado no centro de um amplo terreno, cercado por jardins muito bem cuidados e estrategicamente situado em frente a uma pequena praça, livre de outras construções no entorno, o que conferia ao nosso prédio ainda maior majestade!
Nos horários de entrada e saída, quando o fluxo de pessoas aumentava consideravelmente nos halls dos elevadores e nas portarias do prédio, era comum estabelecerem-se diálogos ou mesmo “reuniões” de pequenos e barulhentos grupos, conversando animadamente sobre os acontecimentos do dia.
Eu, ainda novato no pedaço, como já mencionei, procurava me enturmar, mas ainda sem muito assunto e praticamente sem nenhum amigo mais próximo, a não ser o meu antigo colega dos tempos do DNER, que já trabalhava na Ipiranga havia pouco mais de 1 ano, creio.
Portanto, sempre que podia, eu o procurava para conversar um pouco, para saber mais sobre a empresa e para jogar conversa fora mesmo. Combinava inclusive, de descermos para almoçar no mesmo horário, aproveitando aquele momento para me socializar com mais intensidade.
Além da funcionária de olhos verdes que me entrevistou durante o meu processo admissional e que, por incrível coincidência, havia sido minha colega de turma durante o segundo grau no Colégio André Maurois, conheci também no RH um cidadão pouco mais velho do que eu mas que, embora simpático, preservava uma aparência austera e conservadora, como se vivesse em uma outra época, um pouco mais clássica, digamos assim.
Ele deveria exercer alguma função de chefia, pois era tratado com uma certa deferência pelos mais próximos. E, poucas vezes eu o vi brincar com alguém, de forma mais descontraída.
Certa tarde, lá pelas 17 horas quando se encerrava o expediente, eu e o meu amigo e depois gerente, nos encontramos no hall do nosso andar aguardando um dos quatro elevadores, que naquele horário chegavam lotados ao segundo andar, obrigando-nos a esperar o próximo.
Foi quando, finalmente, chegou um deles com espaço suficiente para nós dois. E embarcamos, ficando de frente para esse nosso colega de RH, que naquela tarde portava uma bengala.
Daí deu-se o diálogo a seguir, atentamente acompanhado por todos os passageiros. Meu colega inquiriu o portador da bengala:
— Machucou-se?
A resposta seca e objetiva:
—Não!
Outra tentativa:
— Torceu o pé?
E a pronta resposta:
—Não!
Mais uma indagação:
—Artrose, reumatismo??
E de novo, mas já começando a ficar tenso, o nosso cavalheiro “vintage” respondeu:
—Também não!!
Em mais uma última e definitiva abordagem, o meu colega inquiriu:
—Então, por que raios você está usando uma bengala?
E o questionado finalmente fuzilou:
—Porque eu gosto, p#€%&@!
Apesar das gargalhadas ecoando pelo elevador lotado, ainda foi possível ouvir as desculpas disfarçadas e as justificativas muito sem graça do meu colega:
—Eu também gosto! Hehehe…Aliás, tenho uma bengala do Bat Masterson que ganhei quando tinha 12 anos! Cheguei a me fantasiar como ele no Carnaval daquele ano…
😃
Philippe Gusmão
04/10/2023
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