Ainda na área da produção, em meados da década de 1990, fui convidado a atuar em um novo projeto: proteção e segurança dos dados da empresa. Não se falava mais em Kbytes ou Mbytes, e sim em Giga e Terabytes.
Era preciso guardar, proteger e recuperar – se necessário – o tesouro da informação. Para esta tarefa foram contratados o software de backup Omniback e o robot Quantum com fitas DLT7000, se não me falha a memória. Foi meu primeiro contato com algo próximo a uma IA – inteligência artificial - das antigas, é verdade, mas não menos interessante. A novidade trouxe profissionais parceiros da HP para as configurações necessárias e transferência de conhecimento. Aquilo atraiu a atenção de pessoas na empresa. Todos queriam ver a novidade.
Descobrimos, logo de cara, que fazer backup/restore dos dados não era uma tarefa simples como a maioria das pessoas pensavam, pois não consistia tão somente em copiar um arquivo de um lugar para o outro e pronto. Ledo engano. O processo mostrou-se mais complexo do que aparentava. Era preciso conhecer o software e suas possibilidades, tais como backup full, incremental, diferencial, etc., com objetivo de trazer o mínimo de impacto nas operações da empresa, tanto para fazer a cópia dos dados, quanto para os possíveis e inevitáveis restores. Parada para full backup apenas aos domingos. Durante a semana, incremental com todos os sistemas operacionais, uma novidade bem-vinda. Instalar e configurar agentes era outra tarefa essencial para o backup dos arquivos de sistemas operacionais,dos dados da empresa distribuídos em ERP, Oracle, o BI, além do saudoso Lotus Notes. E a lista só ia crescendo.
Contudo, o robot, batizado de R2D2, mostrou-se “agressivo” durante sua configuração. Tomemos o primeiro teste como exemplo. Tudo deveria acontecer de forma rápida, já que a nova tecnologia, além de segurança, deveria trazer celeridade.
E assim foi.
Mas havia um detalhe importante: as fitas DLT vinham etiquetadas com código de barras, outra novidade para nós, acostumados às 3420 com label gravado no início, mas que precisavam também ser etiquetadas manualmente pelos valorosos fitotecários, guardiães das mesmas.
O código de barras otimizou bastante esse processo. O robot era uma caixa retangular com uma tampa de vidro na parte superior, permitindo a visão do seu interior. Slots nas laterais, duas unidades de fita na frente e o braço do robot controlando livremente tudo isso. Inseridas as DLTs nos slots, chegou o momento tão aguardado. Antes, contudo, o robot precisava conhecer suas hóspedes, para depois retirar uma delas do slot e leva-la até a unidade de fita que gravaria os dados. Estávamos todos curiosos. O robot iniciou o inventário, que consistia em ler cada código de barra, saber o slot onde se encontravam as fitas, para enfim, registrar tudo em sua biblioteca. Ele emitia um som cibernético, luzes vermelhas piscavam, o movimento do braço indicava que estávamos no futuro, arrancando um Ohhh! da plateia. Mas este processo não foi tão rápido, já que havia, creio eu, trinta e dois slots a serem escaneados, mesmo os vazios. E lá foi o braço lendo um por um, detalhadamente. Legal no início, mas bocejos eram ouvidos aqui e ali, depois de algum tempo. Até que finalmente ele estava pronto para fazer o backup. O braço mecânico selecionou a primeira fita: música de suspense.
Vale ressaltar que o técnico responsável pela configuração deixou o equipamento aberto para observar detalhadamente os movimentos do braço. Foi um erro achar que humanos estavam no controle. O robot, no lugar de colocar a fita na unidade de gravação, arremessou-a na direção dos curiosos como se quisesse um pouco de privacidade. Ele foi atirando fitas até que o técnico fechasse a porta lateral, que não era do quarto de dormir, e sim dos domínios do robot. Uma certa fitotecária magrinha e com a voz mastigada de uma sonoridade peculiar, fugiu gritando: “socorrum...”!
Após algumas semanas de testes e tantas outras para realizar uma implementação segura, estratégia que demandou a participação de muitos profissionais de TI, sem falar na contingência, o processo de backup/restore foi implantado com sucesso.
- Askdxfjaçoerfjdsfjisaf – não, não é um erro de digitação. Este é João Marcelo solicitando a recuperação do e-mail de um diretor com a máxima urgência. Se tranquilo ele já falava rápido, imagina aflito.
No final das contas e de muito trabalho, um robot ranzinza, ora vejam só, de quase exterminador, virou o salvador da pátria de muita gente.
Inesquecível!
Mauro Barbosa
10/02/2024
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