No final de 1985 meu irmão me ligou informando que havia um anúncio no jornal O Globo para uma vaga de operador de computador IBM. Nele não mencionava o nome da empresa apenas um código postal. Currículo enviado e toquei à vida.
Um belo dia ao chegar em casa minha mãe falou: filho tem um telegrama para você aí na mesa. Ao abri-lo, li o seguinte texto: “comparecer no endereço abaixo para entrevista de emprego para vaga de operador de computador”. Uma profusão de sentimentos tomou conta de mim naquele momento.
Como bom mineiro cheguei no endereço meia hora antes e fiquei admirando a arquitetura daquele prédio imponente. Me identifiquei na portaria e aguardei ser chamado. Parecia pobre na Disney olhando a decoração com sofás em couro marrom escuro. Uma beleza.
Os demais candidatos foram chegando e totalizei 11 pessoas. Logo pensei, “dancei”, porque algumas feras conhecidas no mercado estavam participando do processo de seleção. Uma voz grave perguntou quem é Geraldo Ferreira? “Sou eu senhora, pois não”. “Queira entrar por gentileza”. Nesse momento fiz a única coisa cabível: orei.
A primeira pergunta feita pela entrevistadora de RH, baixinha e muito simpática, (espero que vocês se lembrem a quem me refiro) foi: “você é feliz no casamento?” Respondi que era muito feliz. “Você e sua esposa brigam muito?” ”Também não senhora”. Nem me atrevi a perguntar o porquê dessas perguntas.
“Agora peço que você fixe o olhar nessas figuras abaixo e me diga o que vê”, prosseguiu com a entrevista. Confesso que vi coisas que julguei prudente não falar para não passar por maluco. Foi aí que ela insistiu na pergunta, e eu Respondi: “estou vendo um jacaré comendo um rato. Também vejo um leão comendo o pé do jacaré”. “Obrigado Geraldo, estou satisfeita com o resultado”, disse ela.
Agora passaremos para a prova de conhecimentos técnicos pertinentes ao cargo de operador de computador Junior.
Confiante nos conhecimentos adquiridos com dois anos de estágio na Gillete do Brasil e mais três no bureau da Marcodata Processamento de Dados, li atentamente as questões. Respondi corretamente a todas elas e entreguei a prova. “Agora o senhor aguarde o nosso contato por telefone”, concluiu a recrutadora. “Obrigado e até breve.”
Fui para casa com uma esperança enorme em ser escolhido, porém, preocupado com os meus concorrentes. Deixei nas mãos de Deus, como dizia minha mãe.
Passados 25 dias o telefone tocou, era da Ipiranga. A pressão subiu, o coração disparou. “Senhor Geraldo, favor comparecer na próxima segunda-feira para realizar o exame admissional”.
Tempos depois encontrei com a recrutadora no restaurante e perguntei o porquê fui escolhido para vaga? Ela respondeu com olhar fraterno: “porque você preencheu o perfil da vaga”.
“Aqui somos todos uma família só”.
Geraldo Ferreira
10/07/2023
FNI.inf.br - este site NÃO utiliza cookies (exceto os do Google Sites) e NÃO armazena dados pessoais, estando em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados - Lei Federal 13.709/18.
A inclusão de conteúdo está sujeita à aprovação prévia dos editores.