No dia 11 de dezembro de 1981, fui acordado por minha irmã às 4 horas da manhã com a notícia de que havia um incêndio na esquina da Avenida Graça Aranha com Rua Santa Luzia, no centro do Rio.
Imediatamente, visualizei onde poderia ser, identificando os quatro prédios por ali existentes: Edifício Santos Dumont; Edifício Calógeras; Delegacia de Polícia e por fim o prédio conhecido como Condomínio Barão de Mauá, o prédio da Vale do Rio Doce, onde a Ipiranga ocupava dois andares.
E comecei a torcer para que não fosse em nosso edifício, pois sabia que pelo menos um de nossos amigos, em particular ou Renato e/ou Elias, do setor de operação de computadores, poderia estar no prédio naquele momento, devido ao turno de processamento de dados na madrugada e ao serviço de complemento de informações básicas da Empresa e das Bases de Distribuição para onde as notas fiscais seriam enviadas.
Em anos anteriores, por duas vezes, na área de operação de computadores, tivemos princípios de incêndio, que foram sanados a tempo pelos operadores que estavam de serviço.
Chegando ao local, encontrei o Renato e perguntei pelo Elias. Ele me informou que ele estava a salvo. Encontrei outros funcionários da Ipiranga e ficamos observando o fogo destruindo o prédio, andar por andar.
Comecei a visualizar o trabalho que teríamos para recuperação das informações que estavam sendo perdidas…
Continuando a buscar alguns de nossos colegas da área de informática e de outras áreas da empresa, encontrei um dos funcionários da manutenção, sentado no meio fio, chorando. Aproximei-me e procurei consolá-lo, mas ele tinha um motivo especial para estar daquela maneira. Contou que morava no Morro de São Carlos, no Estácio, e que devido à incerteza da situação no Morro (insegurança), resolveu trazer alguns de seus bens para guardar em seu armário, na pequena sala onde trabalhava.
Continuou falando sobre os objetos e disse que somente deixaria o local onde estava quando pudesse subir para ver o que poderia ser recuperado.
Sem poder fazer nada para ajudar no momento, nem podendo ficar com ele até a liberação do prédio, coloquei-me à disposição, se ele quisesse, para acompanhá-lo na subida, assim que obtivesse a liberação.
Fiquei aguardando seu contato, mas só consegui encontrá-lo no prédio novo, onde fiquei sabendo que os cordões, anéis e outros bens em ouro, estavam derretidos em uma barra misturados com restos de carvão dos móveis.
No dia seguinte ao incêndio, começamos uma vida nova, na sede que a Ipiranga estava construindo em São Cristóvão, construção essa que ainda levaria vários meses para ser finalizada.
Nesta hora, começou o que considero que foi nosso dever épico de recuperar todas as informações perdidas neste acidente.
No novo prédio, os andares ainda não tinham o acabamento, era cimento, poeira, e detritos por todos lado, ou seja, local inadequado para qualquer trabalho.
Fazíamos rodízio de trabalho para podermos sentar nas poucas cadeiras e mesas adquiridas na correria. Como não tínhamos cozinha, foi contratado um serviço de quentinhas, muito utilizadas em aviões, mas que por vezes, quando chegavam, não estavam boa para consumo, fazendo com que tivéssemos que buscar o lanche no bairro de São Cristovão.
Foram muitos os desafios vencidos. Quase que como a fénix, conseguimos recuperar todo o necessário para dar continuidade ao desenvolvimento da empresa e abrir caminho pra área de informática chegar até onde ela chegou!
Foi muito trabalho!
Roberto Leandro
28/06/2024
Nota do Editor: mais sobre o incêndio em:
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