Era o nosso time contra o deles.
A superioridade do adversário era incontestável, mas estávamos na torcida e do piso da garagem, bem lá do alto, desfraldamos uma faixa feita com formulário contínuo (alguém lembra o que era isso?). Em letras garrafais um incentivo ao time do coração: “DÁ-LHE CACARECO !”
Não tenho certeza do “dá-lhe", mas era CACARECO o nome de guerra do esquadrão.
Começa o jogo e a dificuldade pressentida visivelmente se manifesta. Em quadra, porém, os dois brilhantes artilheiros do CACARECO – Humberto e Maurão - disputam bravamente com o goleiro adversário o mesmo centímetro quadrado do espaço.
No banco do CACARECO, descansam Seiva e Otelo. Não lembro quem saiu para a entrada do Seiva, que não demorou a tomar um esculacho do chefe Humberto pela absoluta falta de garra: “PASSA LOGO ! NÃO TEM SANGUE NAS VEIAS!” Nasceu aí o apelido que o consagrou.
Da arquibancada saem gritos desesperados de cobrança ao técnico: _ Bota o Otelo ! Otelo !!!
E o coro cresce:
_ OTELO_OTELO_OTELO.... !!!!!
Otelo entra em campo e se apresenta de imediato à pelota: apruma- se, encurvado, para desferir o chute certeiro... e “fura”, sem o menor vestígio de elegância.
Alguém grita de pronto da platéia:
_ Tira o Otelo ! Sai Otelo !!! Sáááái !
E o coro cresce:
_ TIRA_TIRA_TIRA.... !!!!!
Otelo volta ao banco e sentado no chão, com as pernas flexionadas, encolhido que nem criança, amarga o ostracismo precoce com o rosto contra o sol. Mãos em concha nos olhos, mal consegue assistir ao jogo. Fica entediado. E enquanto o espetáculo prossegue, ouve- se ao longe a voz sonolenta de Otelo clamando ao técnico: _Beto!Posso ir embora? Posso? Hein? Posso ir?
Transcorre a contenda num momento tenso e promissor. Nosso pivô Maurão recebe a bola “discostas" para o gol e com a sua habitual flexibilidade, fuzila... depois, é claro, da celeridade de uma rodopiada estonteante de 180 graus.
Perdemos, acho, de 4 X 1. Não tenho certeza do placar, só sei que perdemos, mas pouco importa. Ficou na memória o que tinha que ficar: a plasticidade exuberante daquele gol.
É bem verdade que depois desse dia nosso artilheiro adquiriu uma certa fixação em girar que nem pião diante dos goleiros – com ou sem bola – na tentativa de repetir o grande feito. Mas a coluna vertebral o afastou logo logo dessa condição delirante.
Esses episódios épicos ocorreram há dezenas de anos, mas a admiração por essas “lendas" permanece notoriamente viva em nossa memória afetiva.
GOOOOOL!!!!!
Fatima Vianna
25/02/2024
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