Como narrado na crônica anterior (A reconstrução - I) ficamos todos perplexos com fato de o prédio inteiro onde funcionavam os principais departamentos da Ipiranga ter sido consumido pelo fogo. Ficávamos olhando para cima e não acreditávamos no que estava acontecendo.
Como lá se vão mais de 40 anos, os detalhes acabam escapando, mas na memória me vem o fato de que foi feita uma reunião com os colaboradores presentes em uma das calçadas perto de prédio ainda em chamas com o intuito de informar que todos deveriam, já na próxima segunda-feira, 14 de dezembro de 1981, ir para o prédio que estava sendo construído em São Cristóvão e que estava com as instalações ainda inacabadas.
Quando chegamos ao prédio na segunda-feira vimos que muito trabalho viria pela frente, pois vários móveis ainda estavam embalados, dezenas de mesas ainda estavam estocadas nos andares da garagem, mas de qualquer forma não estávamos desabrigados.
Os primeiros dias foram destinados a arrumar a casa e verificar quais os backups de dados estariam disponíveis para iniciarmos a recuperação. Naqueles tempos os backups eram guardados no prédio do Distrito Rio, na Rua São José, próximo ao prédio da Rua Graça Aranha.
Não tenho os detalhes, pois trabalhava como operador na madrugada, mas sei que quem coordenou tudo no CPD foi o Bonato, que detinha o controle das fitas magnéticas que estavam guardadas na segurança.
Tínhamos o entendimento de que o trabalho seria grande, pois não tínhamos um CPD montado no prédio novo e uma negociação teve que ser feita às pressas para que a IBM pudesse disponibilizar um /3, que foi montado sobre o piso acarpetado no segundo andar. Para transitar tínhamos que ficar pulando os cabos grossos que ligavam o /3 aos periféricos.
Como o /3 não tinha capacidade para rodar a recuperação dos inúmeros sistemas de maneira mais rápida, começamos a utilizar algumas instalações de empresas que se propuseram a nos ceder seus CPD’s em seus momentos ociosos, principalmente nas madrugadas.
Por conta disso íamos com caixas de fitas, formulários, discos, e tudo o que necessitávamos para rodar os sistemas nos sites dos Supermercados Leão, em Bonsucesso, Casa Garson, no Centro da Cidade, e também em Belo Horizonte, no site da Rede Ferroviária.
Meus finais de semana, durante o ano de 1982, foram passados dentro destes CPD’s, trabalhando de meio-dia à meia-noite, e paulatinamente os sistemas foram sendo recuperados.
Operadores, programadores, coordenadores, analistas, chefes e usuários da Informática se uniram em torno do projeto de recuperação e ela aconteceu. Como operador de computador e trabalhando de madrugada, com certeza, não tive a noção do trabalho como um todo, mas dentro do que soube, e sabedor de que todos se imbuíram do propósito de fazer as “coisas” acontecerem, destaco o grande trabalho do Bonato, que em incansáveis vezes esteve na linha de frente da logística, procurando nos dar todas as condições possíveis para que todo o material necessário estivesse à nossa disposição, pois não poderíamos perder o pouco tempo que tínhamos.
Como dito na crônica anterior a respeito da lenda da Fenix que ressurgia das cinzas, a Ipiranga ressurgiu e todo aquele trabalho realizado abriu caminho para que pouco tempo depois a Informática tivesse um crescimento tecnológico que a fez respeitada dentro da própria empresa e também perante as demais companhias brasileiras.
Como já disse, valeu a pena!
Renato Rodrigues
29/07/2023
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